"O empenho em anunciar o Evangelho aos homens do nosso tempo, animados pela esperança mas ao mesmo tempo torturados muitas vezes pelo medo e pela angústia, é sem dúvida alguma um serviço prestado à comunidade dos cristãos, bem como a toda a humanidade." (EN, 1)

27 de dez. de 2010

O processo de iniciação na RCC


O que é Processo de Iniciação? Podemos definir o Processo de Iniciação Cristã como sendo um processo de adesão e inserção na fé, um processo gradual e constante de plena inclusão na comunidade eclesial, numa determinada espiritualidade (método de vida cristã-eclesial, modo próprio de viver a fé cristã, expressão de ser Igreja), que no nosso caso como Renovação Carismática Católica (Movimento Eclesial) é a impregnada vivência e semeadura da Cultura de Pentecostes com todas as suas conseqüências.

Esse processo é importantíssimo e insubstituível na vida de todos os cristãos. Trata-se de uma etapa forte de descobertas (novidades, desafios, encantamento, necessidade de renúncias) e/ou de redescobertas (coisas vividas, atitudes, momentos passados, qualidades esquecidas, intervenções divinas, etc). Estas (re)descobertas se dão em três níveis distintos e ao mesmo tempo indivisíveis: a (re)descoberta de Deus; de si mesmo; de si mesmo com relação aos outros.

Dentro desta iniciação cristã passamos pela sempre incrível experiência da (re)descoberta de um Deus que acima de tudo NOS AMA INCONDICIONALMENTE. Descobrimos que ELE É O DEUS-CONOSCO SALVADOR que nos arrancou do reino das trevas, reconhecemos que ELE PRECISA SER O SENHOR ABSOLUTO de nossas vidas, e que, portanto, seduzidos por Ele e “constrangidos” pelo seu Amor, só nos resta MUDAR DE VIDA e deixarmo-nos preencher pela PESSOA DOM – O ESPÍRITO SANTO, que por sua vez sempre nos impele a vivermos em COMUNIDADE (Igreja, Grupo de Oração, RCC, relacionamentos de irmãos em Cristo).

Nesse processo de iniciação passamos, geralmente, por duas grandes fases teologicamente denominadasmysterium tremendum (mistério do Tremendo) e mysterium fashinosum (mistério de fascínio). Inicialmente, diante do Deus Tremendo somos “repelidos” devido a sua santidade que nos constrange diante da nossa miséria, um Deus cuja santidade nos denuncia e mostra a Sua infinitude em detrimento de nossa finitude. Mas logo o Amor deste mesmo Deus Tremendo nos atrai, nos seduz e nos tornamos fascinados por Ele que passa a dar um novo sentido às nossas vidas, como Senhor e Rei Absoluto. Vemos estas duas fases no glorioso encontro de Moisés com o EU SOU AQUELE QUE SOU, na Sarça Ardente – “E Deus: ‘Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa. Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Moisés escondeu o rosto, e não ousava olhar para Deus.” (Ex. 3,5-6). ’Vou me aproximar, disse ele consigo, para contemplar esse extraordinário espetáculo, e saber porque a sarça não se consome.’ Vendo o Senhor que ele se aproximou para ver, chamou-o do meio da sarça: ‘Moisés, Moisés!’ ‘Eis-me aqui!’ respondeu ele. (Ex. 3,3-4).

            O Processo de Iniciação Cristã, fundamental para todo aquele que entra no seguimento do Senhor, trás à tona emoções, sentimentos, inclinações, fraquezas para purificá-los e equilibrá-los. É um tempo forte de reconhecimento da própria natureza, defeitos, talentos, habilidades. É evidente que estas descobertas se dão durante toda a nossa vida, mas o momento do 1º encontro com a Pessoa de Jesus é o ápice desse ressurgimento do homem novo. O Processo de Iniciação nos leva a um “romantismo” (enamorar-se de Jesus), leva-nos a um 1º amor que deve perdurar por toda a nossa vida, que deve nos preparar para os tempos do possível deserto que virão mais tarde.

Por fim, o correto processo de iniciação se afigura como um divisor de águas, uma vez que exige de nós uma decisão firme, radical, sincera e constante. É o que nos ensina, por exemplo, o episódio evangélico do jovem rico (cf. Marcos 10, 20-22). Uma vez que encontrou o Mestre, escutou sua Palavra, sentiu-se amado e atraído por Ele, foi-lhe requerida uma renúncia, um rompimento com o que tomava o lugar do único e verdadeiro Senhor em sua vida.

Daí depreende-se que quando se suprime este processo de iniciação, fica então um vazio, um prejuízo incalculável na vida do cristão, pois que não vive uma espiritualidade consciente e condizente com todas as suas riquezas e conseqüências (espiritualidade imatura, inconsistente); não se sente parte importante da Renovação Carismática Católica – comunidade eclesial – e por isso não a ama como deveria, ou não se compromete a ponto de dar a vida por ela, na pessoa dos irmãos; não tem a experiência do encontro com Jesus, do encantamento, do “encostar na parede” para renunciar à vida velha; logo, o processo contínuo de conversão fica parado. Daí pode-se compreender a diferença entre “carismáticos afetivos” (envolvidos com a obra) e “carismáticos efetivos” (comprometidos – que dão a vida pela obra).

O prejuízo é para aqueles que não tiverem uma correta iniciação, mas também para todo o Movimento Eclesial, na medida em que estes irmãos por vezes tornam-se, mais tarde, líderes da RCC sem terem sido corretamente alicerçados, acompanhados, liderados, pastoreados, formados. Correm o grave risco de caminharem como alienados na fé, como carismáticos pueris arrastando a muitos por estes caminhos que não são objetivo da RCC.

Neste sentido, o Doc. Aparecida n.º 289 nos ensina: Sentimos a urgência de desenvolver em nossas comunidades um processo de iniciação na vida cristã que comece pelo kerygma que guiado pela Palavra de Deus, que conduza a um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, experimentado como plenitude da humanidade e que leve à conversão, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço e da missão.”

 Daí a necessidade da estrita observância de um processo de iniciação mais “padronizado”, austero e acatado na RCC. Assim, propomos que se resgate aquela seqüência lógica e desde há muito ensinada por nossos pais na fé, enquanto RCC: 1º) Seminário de Vida no Espírito Santo (nove semanas)/ 2º) Experiência de Oração (retiro de final de semana)/ 3º) Seminário de Batismo no Espírito Santo (nove semanas)/ 4º) Seminário de Dons ou Encontro de Dons e Carismas/ 5º) Encontro de Cura Interior. Alicerçada esta iniciação, cabe à liderança, aos pastores da RCC, fomentar a continuidade do processo de crescimento dos irmãos, inserindo-os no Módulo Básico de Formação EPA e assim por diante. Após terem recebido o kerygma, agora estão aptos a receberem a catequese, pois assim nos ensina a Igreja, Mãe e Mestra.

Deus cuida de nós: “Pois eis o que diz o Senhor Javé: vou tomar eu próprio o cuidado com minhas ovelhas, velarei sobre elas. Como o pastor se inquieta por causa de seu rebanho, quando se acha no meio de suas ovelhas tresmalhadas, assim me inquietarei por causa do meu; eu o reconduzirei de todos os lugares por onde tinha sido disperso num dia de nuvens e de trevas. Eu as recolherei dentre os povos e as reunirei de diversos países, para reconduzi-las ao seu próprio solo e fazê-las pastar nos montes de Israel, nos vales e nos lugares habitados da região. Eu as apascentarei em boas pastagens, elas serão levadas a gordos campos sobre as montanhas de Israel; elas repousarão sobre as verdes relvas, terão sobre os montes de Israel abundantes pastagens. Sou eu que apascentarei minhas ovelhas, sou eu que as farei repousar - oráculo do Senhor Javé.” (Ez. 34, 11-15)  

Vinícius Rodrigues Simões
Coord. Estadual Ministério de Formação – RCC/RJ